Cena 3 - Coaching.
Apertaram
as mãos, Liath sempre cauteloso, Chittor sempre espontâneo, como um bom Furry.
- Então
excelência, o que tem para mim?- Liath foi se recostar supostamente displicente
numa ponta da bancada, os braços cruzados facilitavam o saque da arma que da
cintura saiu para um coldre sob o braço esquerdo antes do espião passar a porta
do estacionamento.
- Bom,
primeiro, quero o chip do seu celular, está com ele aí?
- Sim
mas, para quê?
- Sem
perguntas, apenas veja.
O
engenheiro pegou o aparelho do visitante e removeu seu chip, puxou de uma
gaveta um outro celular no qual encaixou o chip e entregou á Liath. O que se via era um smartphone, mas além de ter
corpo em latão, tinha um pedaço de um tubo metálico achatado na parte debaixo.
Atrás havia uma complicada placa de circuito exposta, na lateral direita havia
algo parecido com um fusível ou uma válvula, e na parte de trás também tinha um encaixe para uma câmera com
aumento que já estava ali. Era um trambolho.
Mal
chegou na mão de Liath o aparelho ligou dando um altíssimo uivo de lobo, o que
arrancou um sorriso do seu novo dono. Após vibrar o aparelho mostrou um
interface belíssima, com aspectos ultra modernos, visualmente a mistura de duas
épocas, a marca de Chittor.
- Tudo
o que você fizer se tiver haver com comunicação esse aparelho vai melhorar, até
telepatia, e o GPS dele serve para Psicometria e Bilocação, o manual é simples;
sua intuição. E não se preocupe com sinal, o sinal dele é seu campo somático.
Aliás, ele recarrega enquanto você medita. É tão seu, que se outro tentar
apenas tocar...eu não garanto as consequências. Por fim, ele se conecta
diretamente com isso:
Chittor
tirou debaixo da bancada, uma série de caixas fortes, que foi entregando á seu
visitante.
-
Certo, doutor. O que é isso?
- Sei
que você conhece de pianos, mas e de computadores? Sabe algo? Sabe instalar um
por inteiro?
- Sim,
sei, mas...
- O
manual deste aí, também está na sua intuição. Não se preocupe com vazamentos,
tudo nele é criptografado, funciona com internet normal, mas se quiser, ele
acessa uma rede em que poucos computadores entram. Nela só há máquinas deste
tipo, criei todas e sei quem está com cada uma, risco zero. E como ninguém é de
ferro, tem blueray e placa de PCTV- riu o gênio.
Enquanto
Chittor falava, Liath notou três coisas, e á sua maneira, foi tratando de
satisfazer a curiosidade.
A
primeira, é que o olfato de lupino, notou um perfume, perfume feminino, estava
disperso, quase desaparecia, mas era cheiro de mulher; uma mulher encantadora e
sofisticada se fazia adivinhar pelo perfume quente e inebriante. O macho alpha
despertava.
- Você
não fez isso tudo sozinho, com certeza mais alguém trabalha aqui. Como
conseguem se mexer nesta traquitana toda?
- Bom,
eu sou bem ágil, e a Hilda, minha auxiliar, é magrinha, então não há problemas.
Liath
agora sabia que o perfume tinha um nome. Mas na barra da capa, onde outros não
enxergariam o que ali estava, ele viu e passou o pé que estava próximo de
Chittor naquele ponto do ar, fazendo a capa mover junto com o que viu.
- É, o
motivo da sua agilidade eu já sei. Mas por acaso essa cauda de guepardo- passou
o pé- não toma alguns choques no meio de tanto fio?-
Chittor
riu
- Ah,
você viu é?! Não, o pelo protege.
E então
veio a terceira pergunta;
-
Agora, pode me matar uma dúvida? Aqui só vejo aparelhagem elétrica, mas não vi
tomadas ou interruptores, tudo seu tem bateria?
Liath
não sabia, mas tocou o ego de Chittor, isto era a tônica de seu trabalho, o
entusiasmava falar disso. Venerava um certo gênio científico e ele estava
presente em tudo o que Chittor fazia. Os olhos do engenheiro se arregalaram e
começaram a mosquear mudando cores e forma. Hora olhos humanos, hora olhos de
gato. O felino entregou seus segredos e sua amizade para o suposto canídeo ali
mesmo.
- Vem
cá, quero te mostrar a coisa mais importante nesta oficina. O coração do meu
trabalho.
Foram
para uma outra bancada. Na ponta desta, Chittor descobriu um aquário de vidro
temperado. Ali dentro estava um tubo de ferro que produzia um zunido delicado
enquanto uma peça girava em eixo entre três ímans produzindo centelhas
elétricas. Ligado nisso por um fio, a base de um antigo joystick de videogame
mantinha uma antena telescópica, como as dos rádios de pilha. A ponta desta
antena também soltava raios.
- Não
acredito!- Liath estava espantado- Isto é um Gerador Tesla e um Transmissor
Aéreo de Eletricidade Tesla! Como você conseguiu?! Sumiram com as plantas disso
há mais de século! Impossível um destes existir e funcionar hoje!!!
- No
Ensino Médio, meu professor de Física
Aplicada era um americano muito “da hora” que trabalhou com um famoso físico
croata. Me formei no colégio e fui para a faculdade, cursar justamente Física
por lembrar daquele professor, e também cursei Engenharia da Computação. Para
minha surpresa, o coordenador do curso de Física era o tal americano. Ele me
convidou para fazer umas pesquisas com ele e acabei descobrindo que o
engenheiro croata ex patrão dele era o Tesla! Ele me passou tudo do Doutor que
ainda lembrava e eu pesquisei o resto sozinho. Mas em certa altura, comecei á
ver um vulto vez em quando na oficina, depois de tempos, fui ver que era o
próprio Tesla, me abençoando e me transformando eu seu discípulo e continuador
da sua obra.
- Não
duvido...o Dr. Nicola também era um mago...dizem...te invejo, amigo. Não é todo
o dia que alguém tem um gênio da sua área de trabalho lhe inspirando
diretamente.
![]() |
| Dr. Tesla de seu arquivo pessoal |
Neste
momento, um vulto trajando fraque negro passou pela porta e sumiu na parede
oposta.
- Viu?
– disse Chittor, todo respeito- era ele;
o Doutor.
Conversaram sobre o assunto mais
alguns minutos e Liath telefonou para Sardinha que se aproximou com o carro. As
caixas foram descidas para a loja e depois embarcadas no carro, tomando quase
seu interior todo. Mas na hora da última caixa, Liath viu que o humano dono da
loja tomava um copo de chá e se ria á toa a cada gole. Então Liath percebeu o
que era o cheiro na loja. Chittor de alguma maneira receitou erva de gato para
o homem, dopava o humano á fim de se manter oculto!
- Gato
cheio de truques- pensou Liath enquanto também ria sozinho.
Autor: Estevam Silva.
Ilustrador: Marcos Aramha.
Ilustrador: Marcos Aramha.


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