sábado, 23 de agosto de 2014




Cena 3 - Coaching.

                Apertaram as mãos, Liath sempre cauteloso, Chittor sempre espontâneo, como um  bom Furry.
                - Então excelência, o que tem para mim?- Liath foi se recostar supostamente displicente numa ponta da bancada, os braços cruzados facilitavam o saque da arma que da cintura saiu para um coldre sob o braço esquerdo antes do espião passar a porta do estacionamento.
                - Bom, primeiro, quero o chip do seu celular, está com ele aí?
                - Sim mas, para quê?
                - Sem perguntas, apenas veja.
                O engenheiro pegou o aparelho do visitante e removeu seu chip, puxou de uma gaveta um outro celular no qual encaixou o chip e entregou á Liath. O  que se via era um smartphone, mas além de ter corpo em latão, tinha um pedaço de um tubo metálico achatado na parte debaixo. Atrás havia uma complicada placa de circuito exposta, na lateral direita havia algo parecido com um fusível ou uma válvula, e na parte de trás  também tinha um encaixe para uma câmera com aumento que já estava ali. Era um trambolho.
                Mal chegou na mão de Liath o aparelho ligou dando um altíssimo uivo de lobo, o que arrancou um sorriso do seu novo dono. Após vibrar o aparelho mostrou um interface belíssima, com aspectos ultra modernos, visualmente a mistura de duas épocas, a marca de Chittor.
                - Tudo o que você fizer se tiver haver com comunicação esse aparelho vai melhorar, até telepatia, e o GPS dele serve para Psicometria e Bilocação, o manual é simples; sua intuição. E não se preocupe com sinal, o sinal dele é seu campo somático. Aliás, ele recarrega enquanto você medita. É tão seu, que se outro tentar apenas tocar...eu não garanto as consequências. Por fim, ele se conecta diretamente com isso:
                Chittor tirou debaixo da bancada, uma série de caixas fortes, que foi entregando á seu visitante.
                - Certo, doutor. O que é isso?
                - Sei que você conhece de pianos, mas e de computadores? Sabe algo? Sabe instalar um por inteiro?
                - Sim, sei, mas...
                - O manual deste aí, também está na sua intuição. Não se preocupe com vazamentos, tudo nele é criptografado, funciona com internet normal, mas se quiser, ele acessa uma rede em que poucos computadores entram. Nela só há máquinas deste tipo, criei todas e sei quem está com cada uma, risco zero. E como ninguém é de ferro, tem blueray e placa de PCTV- riu o gênio.
                Enquanto Chittor falava, Liath notou três coisas, e á sua maneira, foi tratando de satisfazer a curiosidade.
                A primeira, é que o olfato de lupino, notou um perfume, perfume feminino, estava disperso, quase desaparecia, mas era cheiro de mulher; uma mulher encantadora e sofisticada se fazia adivinhar pelo perfume quente e inebriante. O macho alpha despertava.
                - Você não fez isso tudo sozinho, com certeza mais alguém trabalha aqui. Como conseguem se mexer nesta traquitana toda?
                - Bom, eu sou bem ágil, e a Hilda, minha auxiliar, é magrinha, então não há problemas.
                Liath agora sabia que o perfume tinha um nome. Mas na barra da capa, onde outros não enxergariam o que ali estava, ele viu e passou o pé que estava próximo de Chittor naquele ponto do ar, fazendo a capa mover junto com o que viu.
                - É, o motivo da sua agilidade eu já sei. Mas por acaso essa cauda de guepardo- passou o pé- não toma alguns choques no meio de tanto fio?-
                Chittor riu
                - Ah, você viu é?! Não, o pelo protege.
                E então veio a terceira pergunta;
                - Agora, pode me matar uma dúvida? Aqui só vejo aparelhagem elétrica, mas não vi tomadas ou interruptores, tudo seu tem bateria?
                Liath não sabia, mas tocou o ego de Chittor, isto era a tônica de seu trabalho, o entusiasmava falar disso. Venerava um certo gênio científico e ele estava presente em tudo o que Chittor fazia. Os olhos do engenheiro se arregalaram e começaram a mosquear mudando cores e forma. Hora olhos humanos, hora olhos de gato. O felino entregou seus segredos e sua amizade para o suposto canídeo ali mesmo.
                - Vem cá, quero te mostrar a coisa mais importante nesta oficina. O coração do meu trabalho.
                Foram para uma outra bancada. Na ponta desta, Chittor descobriu um aquário de vidro temperado. Ali dentro estava um tubo de ferro que produzia um zunido delicado enquanto uma peça girava em eixo entre três ímans produzindo centelhas elétricas. Ligado nisso por um fio, a base de um antigo joystick de videogame mantinha uma antena telescópica, como as dos rádios de pilha. A ponta desta antena também soltava raios.
                - Não acredito!- Liath estava espantado- Isto é um Gerador Tesla e um Transmissor Aéreo de Eletricidade Tesla! Como você conseguiu?! Sumiram com as plantas disso há mais de século! Impossível um destes existir e funcionar hoje!!!
                - No Ensino Médio, meu professor  de Física Aplicada era um americano muito “da hora” que trabalhou com um famoso físico croata. Me formei no colégio e fui para a faculdade, cursar justamente Física por lembrar daquele professor, e também cursei Engenharia da Computação. Para minha surpresa, o coordenador do curso de Física era o tal americano. Ele me convidou para fazer umas pesquisas com ele e acabei descobrindo que o engenheiro croata ex patrão dele era o Tesla! Ele me passou tudo do Doutor que ainda lembrava e eu pesquisei o resto sozinho. Mas em certa altura, comecei á ver um vulto vez em quando na oficina, depois de tempos, fui ver que era o próprio Tesla, me abençoando e me transformando eu seu discípulo e continuador da sua obra.
                - Não duvido...o Dr. Nicola também era um mago...dizem...te invejo, amigo. Não é todo o dia que alguém tem um gênio da sua área de trabalho lhe inspirando diretamente.
Dr. Tesla de seu arquivo pessoal
                Neste momento, um vulto trajando fraque negro passou pela porta e sumiu na parede oposta.
                - Viu? – disse Chittor, todo respeito- era ele;  o Doutor.
                Conversaram sobre o assunto mais alguns minutos e Liath telefonou para Sardinha que se aproximou com o carro. As caixas foram descidas para a loja e depois embarcadas no carro, tomando quase seu interior todo. Mas na hora da última caixa, Liath viu que o humano dono da loja tomava um copo de chá e se ria á toa a cada gole. Então Liath percebeu o que era o cheiro na loja. Chittor de alguma maneira receitou erva de gato para o homem, dopava o humano á fim de se manter oculto!
                - Gato cheio de truques- pensou Liath enquanto também ria sozinho.



Autor: Estevam Silva.
Ilustrador: Marcos Aramha.

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