sexta-feira, 29 de agosto de 2014


Cena 10 – O Desconhecido Blefa de Volta.

                Sardinha viu quando sobre a mesa da sala vazia, o celular de Liath vibrou avisando que estava em “conexão com terminal principal”. Simples, alguém havia ligado o computador de mesa na casa de Liath. Sardinha sabia que não podia tocar no celular, pegou uma grande pinça, com ela envolveu o aparelho num pano e tudo isso foi para dentro de uma caixinha de madeira em sua mochila.
                Correu até a casa do tutor mas encontrou tudo escuro e silencioso. O computador já estava desligado, então pegou o telefone da mesa e ligou para Aleyster:
                 - E aí, mala – Aleyster atendeu já sabendo quem era- encontrou seu chefe?
                 - Ele esteve aqui, roupas jogadas no banheiro e no quarto me dizem que ele ainda está mal mas saiu apressado e foi ainda há pouco. As roupas sobre a cama, estão tão quentes que parecem ter saído do forno. A garrafa daquele whisky irlandês que você deu para ele esta aberta sobre a mesa e ele não bebeu nem meio copo. Mas durante a revista achei algo mais estranho.
                - O que foi? – perguntou Aleyster.
                - As armas que o Castelo manda para nós estão escondidas pela casa inteira nos seus devidos lugares, mas a arma que fica escondida debaixo da escrivaninha foi trocada. Ele deixou a pistola que estava com ele no lugar e saiu levando aquela outra francesa que foi usada na segunda guerra. Parece que ele só veio trocar as roupas e a arma. Não levou mais nada, o carro está comigo então naquele estado ele não pode ter ido longe.
                 - Mas onde você acha que ele está então? Tem ideia?
                - Não, mas o celular avisou que foi feita conexão e o histórico do computador diz que ele pesquisou algo sobre a joia do Velho, então vou para alguém que com certeza vai saber mexer neste tipo de informação.
                E com pressa o jovem foi em direção à Praça da Cruz Vermelha falar direto com quem fez o equipamento, o engenheiro dos furries.
                Na floresta, os cinco lobos estavam juntos de novo. Andavam com dificuldade na Trilha da Caveira pois havia chovido forte horas antes. Abbadon vigiava a fronteira da Tijuca e sentiu o cheiro de um lobo entrando na mata e indo muito rápido para a trilha da caveira. Uivou para a matilha agrupar e telefonou para o celular de Wolfkin para que ele retornasse. Fenrirr ia na frente, abrindo caminho mas parou de repente.
                 - Chegamos, é ele quem está aí, mas eu não vou entrar neste lugar nem com arma na cabeça.
                Era uma clareira ampla no meio da mata, dentro dela uma única árvore, baixa mas larga e de galhos compridos e sinistros; uma fogueira brilhava. Mas na ponta de uma estaca de uns dois metros de altura, presa bem na frente do caminho,  descansava o crânio de um lobo. Aquele lobo quando vivo, abusou do direito de ser grande. Aquilo era um aviso para os desatentos.
                 - E não tem só essa, olhem em volta nos limites da clareira – continuava Fenrrir.
                Outras estacas marcavam a borda do espaço, mas havia crânios de outros animais e também de humanos.
                - Droga, ele ergueu uma cerca fantasma, eu também não ponho as patas aí dentro  –disse Kyle - Quando falei com ele ontem de noite no chat, não pensei que estava falando com um bruxo noturno.
                Bastaram estes sinais para que soubessem com quem estavam lidando. A cerca fantasma era um feitiço sabido por poucos bruxos, era uma magia do Culto das Cabeças. Quando em perigo e cercado, um bruxo recolhe os crânios ou cabeças de toda a forma de vida que encontra. Faz uma evocação e então os antigos donos das cabeças saem do mundo espiritual para defender quem fez a cerca. Reagem com força máxima e ali ficam até que seu chamador os mande embora derrubando uma das estacas. Entrar num cerco desses é pedir para morrer. Sem falar que apenas um tipo de bruxo ainda sabia este feitiço; os temidos Bruxos Noturnos, ou Bruxos Góticos.
                A maioria dos bruxos trabalha de dia e mesmo fazendo suas magias á noite, trabalha com espíritos bem leves e pacíficos. Já os noturnos assim são chamados não por serem maus, mas porque passaram por tudo de ruim que alguém pode sofrer, se tornam uma gente amarga e arisca. Á eles o mundo espiritual confia as magias mais sinistras pois eles são os que conhecem o medo, a raiva, o ódio, a solidão e tudo mais de ruim que cai sobre o coração dos homens. Usam este conhecimento para defender sua gente destas coisas, pois já que as conhecem, sabem como as evitar. O mundo espiritual também os usa de outra maneira; os bruxos comuns trabalham contra o mal de forma diplomática, já os noturnos chegam quando a diplomacia falha e o mal se espalha. Agem com força bruta usando os métodos dos bandidos contra os bandidos, pois para eles, o mal só para quando engole do próprio veneno. Era assim que estavam identificando Liath.
                 - Não acho que vamos ter problemas – falava Luke, o Alpha – não estamos aqui com más intenções. Eu vou entrar.
                Mesmo com os avisos do resto do grupo, Luke foi em frente e passou da estaca. Mal colocou o segundo pé dentro da clareira, se ouviu um rosnado claro, alto e muito ameaçador. Abbadon meteu a mão na gola da camisa de Luke e o puxou o mais rápido possível, mas a barra da calça do Alpha já estava em retalhos. Se o beta não tivesse agido á tempo, Luke esta hora já estaria estraçalhado bem na frente da própria matilha.
                Sobre quatro enormes patas, um gigantesco lobo pré histórico rosnava mostrando os dentes atrás da sua estaca. A mordida na calça de Luke foi só um aviso, o próximo á tentar não chegaria vivo na árvore; mas aí, novo susto. Bem na frente da fogueira a silhueta de um homem apareceu do nada, o ar frio da noite batia contra a cabeça que ardia em calor e de seus cabelos uma fumaça branca se levantava, os olhos eram um branco total brilhando no meio da forma escura, e na mão direita uma grande pistola dizia que seu dono não estava para conversa.
                - Auto! Quem vem lá? Identifique – se! – a voz de Liath estava diferente e as palavras saíam com um sotaque francês fortíssimo. Aquele carioca simpático e gentil parecia ter ficado no caminho.
                 - Liath, somos nós – falava Luke ainda olhando para a barra da calça – a Matilha Nova. Derrube uma estaca para a gente entrar.
                - Podem ficar por aí – respondeu o bruxo – estou preparando uma cerimônia pesada e o terreno não pode ter marcas de outros.          
                - Não sei porque nos trata assim – Wolfer se zangava pela maneira como o humano os tratava – estamos do mesmo lado e de certa forma foi você quem nos chamou aqui.
                Liath os olhou como se não soubesse do que falavam.
                 - Vocês precisam melhorar sua noção do perigo, acho que não sabem com quem estão se metendo, não é?
                 - Quem você acha que é, seu humano folgado?! – Kyle falava já visivelmente zangado – você acha que pode chamar a gente aqui e tratar um bando de lobos feito capacho de loja?
                - Eu não falo de mim, menino. Eu estou me preparando deste jeito, pois eu já tenho noção de contra quem vamos brigar, se eu fosse vocês eu me enfiava em outro canto desta mata e ia me preparar também. – Liath sentou no chão encostado em uma pedra, pondo a pistola no colo.
                O lobo pré histórico se virou e devagar caminhou até o bruxo se deitando ao seu lado, estava tranquilo feito um cão doméstico; recomeçava á chover. Luke então fez um sinal para a matilha se calar e resolveu tirar algum lucro daquele encontro estranho.
                 - Então meu amigo, contra quem você acha que vamos lutar?
                - Tenho tudo para acreditar que é um psicopata, aliás, um furry psicopata.
                 - Furry psicopata?! – era uma ideia absurda – não tem como ser isso! Este tipo de gente não existe entre nós.
                - Falou a voz do povo santo. Acorde garoto, gente ruim existe em todo o lugar, em todos os povos e raças. Acha mesmo que por serem divertidos , simpáticos e terem uma aparência inofensiva, os furries são todos uns doces? É entre as ovelhas que o lobo se esconde. Aliás, como você acha que seus assassinos escolhem as vítimas? Olhando detrás de um binóculo?! Não, eles caminham entre vocês. Sabem quem vocês são e quem devem perseguir.
                Um silêncio cheio de medo e dúvida foi a resposta ás afirmações do detetive. Os pingos de chuva sobre a pistola no colo do humano, tornavam a cena ainda mais triste.
                - Mas então – Wolfikin falava com desânimo – o que vamos fazer se ele está no meio da gente se servindo á vontade e nem sabemos o nome ou o rosto de quem nos mata?
                - “Quem não conhece o próprio exército e nem o do inimigo, sempre será derrotado. Quem conhece o inimigo mas não se conhece, poderá vencer de forma duvidosa. Mas quem conhece á si mesmo e ao inimigo, sempre terá vitórias gloriosas.” – Liath citava o Arte da Guerra de Shun Tzu -  Minha função aqui é conhecer o inimigo e preparar nossas tropas. A função de vocês, é me dar essas tropas. Lembram que eu pedi uma matilha completa e outros animais bons de combate?
                 - Concordo com você – respondia Luke – estou pensando da mesma forma.
                - Mas eu ainda acho que reunir todas as espécies vai ser difícil – completou Wolfer.
                - Quando encaramos a morte e a possibilidade do fim dos nossos mundos, todos os limites somem. Confiem no seu trabalho e tudo vai dar certo, não estamos sós. Agora vão, como eu já disse, eu estou me preparando e vocês precisam fazer o mesmo. Nos vemos em alguns dias.
                A Matilha Nova foi embora desconfiada, Liath parecia conhecer bem as coisas da guerra e da morte, mas nem de longe parecia ser tão confiável quanto diziam. O grupo trocava suas impressões sobre o encontro, mas então Wolfkin disse algo que os acalmou:
                 - Gente, não é por nada. Mas eu acho que não era o Liath que estava falando com a gente.
                - Como assim?! – todos gritaram ao mesmo tempo.
                - Enquanto ele falava, eu resolvi dar uma olhada em volta dele. A cor de aura que eu vi deixou bem claro que havia um defunto em pé na nossa frente. Ou alguma coisa se materializou na forma dele, ou então o humano estava possuído por algo. Mas “na boa”, por mais sinistro que o sujeito seja, os conselhos dele também mostram que está do nosso lado.
                Mal o grupo sumiu na mata, Liath se levantou olhando para a direção contrária que o grupo tomou, e levantou a voz dizendo:
                 - Tudo bem mulher mágica. Pode sair, estamos sozinhos, não pense que eu não a notei escondida aí no escuro.
                Uma pequena luz negra se acendeu na clareira, cresceu e tomou forma humana. Uma linda mulher com cabelos loiros cacheados até o meio das pernas apareceu, usava um vestido medieval bem feito em cores preto e azul. A pele clara feito neve recém caída contrastava com o negro dos olhos. Uma luz azul suave parecia sair do corpo de escultura.  Era uma fada noturna, mais precisamente, uma nobre de alguma grande colônia de fadas.
                - Aí está a Besta de Gévaudan em pessoa! Boa noite, Capitão Bloch.
                - Boa noite, Áilleacht. Não a vejo desde antes da minha morte.
                - Pois bem comandante, está certo que o afinador de pianos é a sua re encarnação, mas por favor, pode sair do corpo do meu amigo?
                 - Só porque você vive perto dele o enchendo de beijos e carinhos como se fosse uma namoradinha de colégio, você não tem direito de vir defende- lo. Não pense que só porque ele não a vê eu não vejo. Além do mais, eu vim para ajudar, se não fosse por mim, ele não saberia metade das coisas de guerra que ele conhece. Se eu não estivesse com ele no tiroteio do galpão o auxiliar dele teria morrido e ele agora estaria muito mais machucado. Sinceramente, você sabe quem ele está destinado á enfrentar, foi um desrespeito vocês deixarem uma alma que faz guerra desde a pré história, nascer fora de um quartel. Vocês são irresponsáveis.
                - Cuidado com a boca, sombra de mercenário! Sabe muito bem que eu só preciso levantar um dedo para declarar sua segunda morte e lhe apagar da linha encarnatória dele.
                O soldado sabia que ela tinha poder para isso mas não ia se dobrar ao medo. Porém, sem ele saber, a fada enquanto falava atirou um pouco do seu Glamour no ar e amansou a fera, ele estava pronto para aceitar qualquer pedido.
                - Então capitão, o senhor sabe que eu sou a fada madrinha dele, também vim para ajudar. Mas afinal, o que vai fazer com ele? – ela mostrava seu lindo sorriso.
                - Vou aprontar uma cabana de suor para ele, já que agora ele não é soldado, vou fazer ele acessar toda a linha encarnatória dele, do início até hoje. Com isso, ele vai acessar todos os conhecimentos militares que ganhou enquanto vivo, sem treinar vai saber lutar e preparar tropas. Mas também vai ficar bem mais poderoso, vai virar a máquina de guerra que ele é.
                - Então já que o senhor vai lhe dar este presente, fique de lado dois minutos para que eu possa dar o meu, por favor.
                Liath recobrou a consciência, mas não teve tempo nem de piscar. A fada o abraçou pensou em todo o carinho que tinha pelo humano. Um homem normal ficaria em choque só de avistar uma fada, se fosse tocado explodiria em chamas até virar cinzas. Mas ela estava enchendo um bruxo com uma faísca de sua energia. Liath amoleceu como um menino apaixonado que se abandona no abraço da namorada. Indefeso, transbordava de paixão e desejo, encantado pela beleza do ser mágico. Fadas não se apaixonam e nem sentem desejo pois sua reprodução é como a das células. Mas mesmo assim, elas gostam de provar esse impulso dos homens, como uma criança em uma loja de doces. Apenas por diversão, ela beijou os lábios de Liath lhe injetando ainda mais força.
                Liath caiu no chão e tremia como um epilético. Ela lhe passou a mão no peito e disse:
                - Eu sei que dói meu querido, mas é para o seu bem. É o melhor que posso fazer agora por você.
                Ela se foi e o homem depois de alguns minutos parou de sofrer, estava tão exausto que dormiu ali no chão. O sol raiou e Bloch o possuiu de novo. Durante todo o dia, o legionário construiu uma pequena cabana em forma de iglu. Cobriu com folhas e lá dentro acendeu uma fogueira. Quando a noite chegou, a pequena cabana parecia um forno. Ele entrou, mas como não tinha nenhuma substância própria para o serviço, fez Liath beber toda uma garrafa de bolso cheia de whisky que trouxe da casa do detetive. Estava tudo pronto, era só esperar. Ele deixou o corpo do detetive, o abandonando a própria sorte.
                Liath então se viu em pé dentro de uma caverna onde ardia uma fogueira. Havia uma saída; era uma rampa que subia em forma de caracol no sentido horário. A parede da direita era iluminada por tochas. Na parede da esquerda, estátuas de bronze em tamanho natural, eram muitas, várias centenas. Ele então devagar começou a caminhar na rampa olhando para as estátuas. Eram todos guerreiros, no pé de cada estátua, havia uma placa com o nome, ano de nascimento e ano de morte. Ele andava vendo uma a uma, quando olhava o rosto de cada guerreiro, obtinha todas as suas memórias.
                 O primeiro era um guerreiro da época da pedra lascada, vestido com a pele de um lobo, sentado aos seus pés, havia um outro lobo, que pareceu ser seu companheiro. Foi andando e mais adiante encontrou um Guerreiro Cachorro da África. Mais adiante, estava um Escudo Preto Fianna da Irlanda da idade do Bronze. Mais algumas estátuas e veio um espartano que lutou na segunda batalha do Paço de Termópilas. Um sicário judeu da época de cristo também estava lá, seguido de um Guerreiro Pantera Inca. Chegou na baixa idade média e viu um nobre cavaleiro inglês. O tempo avançou um pouco mais e apareceu um ninja do Japão que lutou defendendo o povo no Cerco de Iga, nele reconheceu a espada que Aleyster lhe deu. A rampa subiu mais e encontrou um tenente da cavalaria de Napoleão. Duas estátuas depois havia um Dragão da Independência brasileiro que foi guarda de D. Pedro I. Veio um cossaco russo e por último estava o próprio legionário que o estava perseguindo, na cintura deste, a pistola que Liath escondia sob o tampo da escrivaninha em seu apartamento. Bloch, foi o único á ser morto em combate, pois todos os outros lutaram, venceram e viveram até uma morte natural. Bloch morreu perseguindo um certo nazista muito conhecido durante a segunda guerra mundial. Liath estava com as memórias de todos eles, viu que eram todos guerreiros, viu que eram todos bruxos. Viu que várias estátuas eram acompanhadas por lobos, mas principalmente; viu que todos eram ele. 
                Depois da última estátua, na parede havia um pequeno espelho refletindo o rosto de Liath. A placa embaixo, tinha seu ano de nascimento mas não tinha o de morte. De repente a superfície do espelho vibrou como a água atingida por uma pedrinha, então do espelho, uma voz de mulher falou:
                - Filho, esta foi a marcha de todo o seu tempo, todo o seu conhecimento. Você agora sabe e lembra tudo. Use sua experiência e sua força para a guerra que virá. Você ainda tem muito o que sofrer, mas saiba que se vencer, terá uma vida longa e cheia de paz. Finalmente vai conhecer o amor e quando morrer, virá para junto de mim; descansar em paz e sabedoria, para nunca mais aos homens voltar.
                Liath caminhou e saiu da caverna, parecia caminhar no chão da Lua, olhou para cima e então viu a Terra, grande e muito azul. Viu que do espaço profundo, uma serpente gigante cheia de maldade vinha rastejando para destruir a o planeta azul, e então acordou.
                Saiu da cabana e desmontou a cerca fantasma, agradecendo e dispensando seus defensores, não precisava mais daquele tipo de coisa. Notou que seu corpo estava não só curado, mas melhorado. Para pensar na vida resolveu ficar mais um dia na mata.
                Cat Chittor acordou com a porta do laboratório quase sendo arrombada. Desceu e deu de cara com um jovem mestiço de índio com cara de desesperado.
                - Oi, desculpas pela hora. É...você não me conhece, mas meu nome é...
                - Sardinha – falou o gato mal humorado, nem furries gostam de ser acordados no meio da madrugada – Tem notícias do Liath? O que aconteceu?
                - Posso subir, aqui fora a gente pode estar sendo visto, lá em cima eu conto tudo.
                Subiram, Sardinha contou o que viu e mostrou a caixa. Chittor tirou o aparelho de lá também sem tocar. Sobre a bancada o aparelho apitava, vibrava e piscava.
                - Humm, isto é mal – falava o guepardo – Sei lá o que está acontecendo com ele, mas seja o que for é pesado. Só podemos fazer duas coisas. A primeira é: Me dê seu celular.
                Assim como fez com Liath, o felino substituiu o celular de sardinha. Mas tomou o cuidado de por os dois aparelhos em rede.
                - E qual é a segunda coisa, Chittor?
                - Esperar.
                Momentos depois no apartamento do mentor, Sardinha se preparava para dormir quando ouviu um barulho na sala. Levantou e foi checar o que acontecia. Ao acender a luz, quase desmaiou quando viu Liath de pé, encostado na escrivaninha com os braços cruzados. Não era ele, era seu espirito projetado, vestindo terno e gravata pretos e uma camisa de ceda vermelho brasa. No rosto a expressão séria terminava a pintura. Liath se transformou num bruxo noturno finalmente. Já tinha tendência para isso, mas agora havia mudado de vez.
                - Você está morto? – perguntou o jovem assustado.
                Liath virou de lado e deixou ver o fio de prata que saia brilhante de suas costas e desaparecia no ar. Se aquilo estava ali, o espirito ainda estava preso á um corpo. Liath sumiu como uma lâmpada que apaga devagar. Mas quando a imagem se foi, a sala se encheu com sua voz.
                - Descanse, mas amanhã passe óleo nas armas e afie as Lâminas. Temos muito o que lutar.

Autor: Estevam Silva.

Ilustração: Marco Aramha.

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