Cena 10 – O Desconhecido Blefa de Volta.
Sardinha
viu quando sobre a mesa da sala vazia, o celular de Liath vibrou avisando que
estava em “conexão com terminal principal”. Simples, alguém havia ligado o
computador de mesa na casa de Liath. Sardinha sabia que não podia tocar no
celular, pegou uma grande pinça, com ela envolveu o aparelho num pano e tudo
isso foi para dentro de uma caixinha de madeira em sua mochila.
Correu
até a casa do tutor mas encontrou tudo escuro e silencioso. O computador já
estava desligado, então pegou o telefone da mesa e ligou para Aleyster:
- E aí, mala – Aleyster atendeu já sabendo
quem era- encontrou seu chefe?
- Ele esteve aqui, roupas jogadas no banheiro
e no quarto me dizem que ele ainda está mal mas saiu apressado e foi ainda há
pouco. As roupas sobre a cama, estão tão quentes que parecem ter saído do
forno. A garrafa daquele whisky irlandês que você deu para ele esta aberta
sobre a mesa e ele não bebeu nem meio copo. Mas durante a revista achei algo
mais estranho.
- O que
foi? – perguntou Aleyster.
- As
armas que o Castelo manda para nós estão escondidas pela casa inteira nos seus
devidos lugares, mas a arma que fica escondida debaixo da escrivaninha foi
trocada. Ele deixou a pistola que estava com ele no lugar e saiu levando aquela
outra francesa que foi usada na segunda guerra. Parece que ele só veio trocar
as roupas e a arma. Não levou mais nada, o carro está comigo então naquele
estado ele não pode ter ido longe.
- Mas onde você acha que ele está então? Tem
ideia?
- Não,
mas o celular avisou que foi feita conexão e o histórico do computador diz que
ele pesquisou algo sobre a joia do Velho, então vou para alguém que com certeza
vai saber mexer neste tipo de informação.
E com
pressa o jovem foi em direção à Praça da Cruz Vermelha falar direto com quem
fez o equipamento, o engenheiro dos furries.
Na
floresta, os cinco lobos estavam juntos de novo. Andavam com dificuldade na
Trilha da Caveira pois havia chovido forte horas antes. Abbadon vigiava a
fronteira da Tijuca e sentiu o cheiro de um lobo entrando na mata e indo muito
rápido para a trilha da caveira. Uivou para a matilha agrupar e telefonou para
o celular de Wolfkin para que ele retornasse. Fenrirr ia na frente, abrindo
caminho mas parou de repente.
- Chegamos, é ele quem está aí, mas eu não vou
entrar neste lugar nem com arma na cabeça.
Era uma
clareira ampla no meio da mata, dentro dela uma única árvore, baixa mas larga e
de galhos compridos e sinistros; uma fogueira brilhava. Mas na ponta de uma
estaca de uns dois metros de altura, presa bem na frente do caminho, descansava o crânio de um lobo. Aquele lobo
quando vivo, abusou do direito de ser grande. Aquilo era um aviso para os
desatentos.
- E não tem só essa, olhem em volta nos
limites da clareira – continuava Fenrrir.
Outras
estacas marcavam a borda do espaço, mas havia crânios de outros animais e
também de humanos.
-
Droga, ele ergueu uma cerca fantasma, eu também não ponho as patas aí
dentro –disse Kyle - Quando falei com
ele ontem de noite no chat, não pensei que estava falando com um bruxo noturno.
Bastaram
estes sinais para que soubessem com quem estavam lidando. A cerca fantasma era
um feitiço sabido por poucos bruxos, era uma magia do Culto das Cabeças. Quando
em perigo e cercado, um bruxo recolhe os crânios ou cabeças de toda a forma de
vida que encontra. Faz uma evocação e então os antigos donos das cabeças saem
do mundo espiritual para defender quem fez a cerca. Reagem com força máxima e
ali ficam até que seu chamador os mande embora derrubando uma das estacas.
Entrar num cerco desses é pedir para morrer. Sem falar que apenas um tipo de
bruxo ainda sabia este feitiço; os temidos Bruxos Noturnos, ou Bruxos Góticos.
A
maioria dos bruxos trabalha de dia e mesmo fazendo suas magias á noite, trabalha
com espíritos bem leves e pacíficos. Já os noturnos assim são chamados não por
serem maus, mas porque passaram por tudo de ruim que alguém pode sofrer, se
tornam uma gente amarga e arisca. Á eles o mundo espiritual confia as magias
mais sinistras pois eles são os que conhecem o medo, a raiva, o ódio, a solidão
e tudo mais de ruim que cai sobre o coração dos homens. Usam este conhecimento
para defender sua gente destas coisas, pois já que as conhecem, sabem como as
evitar. O mundo espiritual também os usa de outra maneira; os bruxos comuns
trabalham contra o mal de forma diplomática, já os noturnos chegam quando a
diplomacia falha e o mal se espalha. Agem com força bruta usando os métodos dos
bandidos contra os bandidos, pois para eles, o mal só para quando engole do
próprio veneno. Era assim que estavam identificando Liath.
- Não acho que vamos ter problemas – falava
Luke, o Alpha – não estamos aqui com más intenções. Eu vou entrar.
Mesmo
com os avisos do resto do grupo, Luke foi em frente e passou da estaca. Mal
colocou o segundo pé dentro da clareira, se ouviu um rosnado claro, alto e
muito ameaçador. Abbadon meteu a mão na gola da camisa de Luke e o puxou o mais
rápido possível, mas a barra da calça do Alpha já estava em retalhos. Se o beta
não tivesse agido á tempo, Luke esta hora já estaria estraçalhado bem na frente
da própria matilha.
Sobre
quatro enormes patas, um gigantesco lobo pré histórico rosnava mostrando os
dentes atrás da sua estaca. A mordida na calça de Luke foi só um aviso, o próximo
á tentar não chegaria vivo na árvore; mas aí, novo susto. Bem na frente da
fogueira a silhueta de um homem apareceu do nada, o ar frio da noite batia
contra a cabeça que ardia em calor e de seus cabelos uma fumaça branca se
levantava, os olhos eram um branco total brilhando no meio da forma escura, e
na mão direita uma grande pistola dizia que seu dono não estava para conversa.
- Auto!
Quem vem lá? Identifique – se! – a voz de Liath estava diferente e as palavras
saíam com um sotaque francês fortíssimo. Aquele carioca simpático e gentil
parecia ter ficado no caminho.
- Liath, somos nós – falava Luke ainda olhando
para a barra da calça – a Matilha Nova. Derrube uma estaca para a gente entrar.
- Podem
ficar por aí – respondeu o bruxo – estou preparando uma cerimônia pesada e o
terreno não pode ter marcas de outros.
- Não
sei porque nos trata assim – Wolfer se zangava pela maneira como o humano os
tratava – estamos do mesmo lado e de certa forma foi você quem nos chamou aqui.
Liath
os olhou como se não soubesse do que falavam.
- Vocês precisam melhorar sua noção do perigo,
acho que não sabem com quem estão se metendo, não é?
- Quem você acha que é, seu humano folgado?! –
Kyle falava já visivelmente zangado – você acha que pode chamar a gente aqui e tratar
um bando de lobos feito capacho de loja?
- Eu
não falo de mim, menino. Eu estou me preparando deste jeito, pois eu já tenho
noção de contra quem vamos brigar, se eu fosse vocês eu me enfiava em outro
canto desta mata e ia me preparar também. – Liath sentou no chão encostado em
uma pedra, pondo a pistola no colo.
O lobo
pré histórico se virou e devagar caminhou até o bruxo se deitando ao seu lado,
estava tranquilo feito um cão doméstico; recomeçava á chover. Luke então fez um
sinal para a matilha se calar e resolveu tirar algum lucro daquele encontro
estranho.
- Então meu amigo, contra quem você acha que
vamos lutar?
- Tenho
tudo para acreditar que é um psicopata, aliás, um furry psicopata.
- Furry psicopata?! – era uma ideia absurda –
não tem como ser isso! Este tipo de gente não existe entre nós.
- Falou
a voz do povo santo. Acorde garoto, gente ruim existe em todo o lugar, em todos
os povos e raças. Acha mesmo que por serem divertidos , simpáticos e terem uma
aparência inofensiva, os furries são todos uns doces? É entre as ovelhas que o
lobo se esconde. Aliás, como você acha que seus assassinos escolhem as vítimas?
Olhando detrás de um binóculo?! Não, eles caminham entre vocês. Sabem quem
vocês são e quem devem perseguir.
Um
silêncio cheio de medo e dúvida foi a resposta ás afirmações do detetive. Os
pingos de chuva sobre a pistola no colo do humano, tornavam a cena ainda mais
triste.
- Mas
então – Wolfikin falava com desânimo – o que vamos fazer se ele está no meio da
gente se servindo á vontade e nem sabemos o nome ou o rosto de quem nos mata?
- “Quem
não conhece o próprio exército e nem o do inimigo, sempre será derrotado. Quem
conhece o inimigo mas não se conhece, poderá vencer de forma duvidosa. Mas quem
conhece á si mesmo e ao inimigo, sempre terá vitórias gloriosas.” – Liath
citava o Arte da Guerra de Shun Tzu -
Minha função aqui é conhecer o inimigo e preparar nossas tropas. A
função de vocês, é me dar essas tropas. Lembram que eu pedi uma matilha
completa e outros animais bons de combate?
- Concordo com você – respondia Luke – estou
pensando da mesma forma.
- Mas
eu ainda acho que reunir todas as espécies vai ser difícil – completou Wolfer.
-
Quando encaramos a morte e a possibilidade do fim dos nossos mundos, todos os
limites somem. Confiem no seu trabalho e tudo vai dar certo, não estamos sós.
Agora vão, como eu já disse, eu estou me preparando e vocês precisam fazer o
mesmo. Nos vemos em alguns dias.
A
Matilha Nova foi embora desconfiada, Liath parecia conhecer bem as coisas da
guerra e da morte, mas nem de longe parecia ser tão confiável quanto diziam. O
grupo trocava suas impressões sobre o encontro, mas então Wolfkin disse algo
que os acalmou:
- Gente, não é por nada. Mas eu acho que não
era o Liath que estava falando com a gente.
- Como
assim?! – todos gritaram ao mesmo tempo.
-
Enquanto ele falava, eu resolvi dar uma olhada em volta dele. A cor de aura que
eu vi deixou bem claro que havia um defunto em pé na nossa frente. Ou alguma
coisa se materializou na forma dele, ou então o humano estava possuído por
algo. Mas “na boa”, por mais sinistro que o sujeito seja, os conselhos dele
também mostram que está do nosso lado.
Mal o
grupo sumiu na mata, Liath se levantou olhando para a direção contrária que o
grupo tomou, e levantou a voz dizendo:
- Tudo bem mulher mágica. Pode sair, estamos
sozinhos, não pense que eu não a notei escondida aí no escuro.
Uma
pequena luz negra se acendeu na clareira, cresceu e tomou forma humana. Uma
linda mulher com cabelos loiros cacheados até o meio das pernas apareceu, usava
um vestido medieval bem feito em cores preto e azul. A pele clara feito neve
recém caída contrastava com o negro dos olhos. Uma luz azul suave parecia sair
do corpo de escultura. Era uma fada
noturna, mais precisamente, uma nobre de alguma grande colônia de fadas.
- Aí
está a Besta de Gévaudan em pessoa! Boa noite, Capitão Bloch.
- Boa
noite, Áilleacht. Não a vejo desde antes da minha morte.
- Pois
bem comandante, está certo que o afinador de pianos é a sua re encarnação, mas
por favor, pode sair do corpo do meu amigo?
- Só porque você vive perto dele o enchendo de
beijos e carinhos como se fosse uma namoradinha de colégio, você não tem
direito de vir defende- lo. Não pense que só porque ele não a vê eu não vejo. Além
do mais, eu vim para ajudar, se não fosse por mim, ele não saberia metade das
coisas de guerra que ele conhece. Se eu não estivesse com ele no tiroteio do
galpão o auxiliar dele teria morrido e ele agora estaria muito mais machucado.
Sinceramente, você sabe quem ele está destinado á enfrentar, foi um desrespeito
vocês deixarem uma alma que faz guerra desde a pré história, nascer fora de um
quartel. Vocês são irresponsáveis.
-
Cuidado com a boca, sombra de mercenário! Sabe muito bem que eu só preciso
levantar um dedo para declarar sua segunda morte e lhe apagar da linha
encarnatória dele.
O
soldado sabia que ela tinha poder para isso mas não ia se dobrar ao medo.
Porém, sem ele saber, a fada enquanto falava atirou um pouco do seu Glamour no
ar e amansou a fera, ele estava pronto para aceitar qualquer pedido.
- Então
capitão, o senhor sabe que eu sou a fada madrinha dele, também vim para ajudar.
Mas afinal, o que vai fazer com ele? – ela mostrava seu lindo sorriso.
- Vou
aprontar uma cabana de suor para ele, já que agora ele não é soldado, vou fazer
ele acessar toda a linha encarnatória dele, do início até hoje. Com isso, ele
vai acessar todos os conhecimentos militares que ganhou enquanto vivo, sem
treinar vai saber lutar e preparar tropas. Mas também vai ficar bem mais
poderoso, vai virar a máquina de guerra que ele é.
- Então
já que o senhor vai lhe dar este presente, fique de lado dois minutos para que
eu possa dar o meu, por favor.
Liath
recobrou a consciência, mas não teve tempo nem de piscar. A fada o abraçou
pensou em todo o carinho que tinha pelo humano. Um homem normal ficaria em
choque só de avistar uma fada, se fosse tocado explodiria em chamas até virar
cinzas. Mas ela estava enchendo um bruxo com uma faísca de sua energia. Liath
amoleceu como um menino apaixonado que se abandona no abraço da namorada.
Indefeso, transbordava de paixão e desejo, encantado pela beleza do ser mágico.
Fadas não se apaixonam e nem sentem desejo pois sua reprodução é como a das
células. Mas mesmo assim, elas gostam de provar esse impulso dos homens, como
uma criança em uma loja de doces. Apenas por diversão, ela beijou os lábios de
Liath lhe injetando ainda mais força.
Liath
caiu no chão e tremia como um epilético. Ela lhe passou a mão no peito e disse:
- Eu
sei que dói meu querido, mas é para o seu bem. É o melhor que posso fazer agora
por você.
Ela se
foi e o homem depois de alguns minutos parou de sofrer, estava tão exausto que
dormiu ali no chão. O sol raiou e Bloch o possuiu de novo. Durante todo o dia,
o legionário construiu uma pequena cabana em forma de iglu. Cobriu com folhas e
lá dentro acendeu uma fogueira. Quando a noite chegou, a pequena cabana parecia
um forno. Ele entrou, mas como não tinha nenhuma substância própria para o
serviço, fez Liath beber toda uma garrafa de bolso cheia de whisky que trouxe
da casa do detetive. Estava tudo pronto, era só esperar. Ele deixou o corpo do
detetive, o abandonando a própria sorte.
Liath
então se viu em pé dentro de uma caverna onde ardia uma fogueira. Havia uma
saída; era uma rampa que subia em forma de caracol no sentido horário. A parede
da direita era iluminada por tochas. Na parede da esquerda, estátuas de bronze
em tamanho natural, eram muitas, várias centenas. Ele então devagar começou a
caminhar na rampa olhando para as estátuas. Eram todos guerreiros, no pé de
cada estátua, havia uma placa com o nome, ano de nascimento e ano de morte. Ele
andava vendo uma a uma, quando olhava o rosto de cada guerreiro, obtinha todas
as suas memórias.
O primeiro era um guerreiro da época da pedra
lascada, vestido com a pele de um lobo, sentado aos seus pés, havia um outro
lobo, que pareceu ser seu companheiro. Foi andando e mais adiante encontrou um
Guerreiro Cachorro da África. Mais adiante, estava um Escudo Preto Fianna da Irlanda
da idade do Bronze. Mais algumas estátuas e veio um espartano que lutou na
segunda batalha do Paço de Termópilas. Um sicário judeu da época de cristo
também estava lá, seguido de um Guerreiro Pantera Inca. Chegou na baixa idade
média e viu um nobre cavaleiro inglês. O tempo avançou um pouco mais e apareceu
um ninja do Japão que lutou defendendo o povo no Cerco de Iga, nele reconheceu
a espada que Aleyster lhe deu. A rampa subiu mais e encontrou um tenente da
cavalaria de Napoleão. Duas estátuas depois havia um Dragão da Independência
brasileiro que foi guarda de D. Pedro I. Veio um cossaco russo e por último
estava o próprio legionário que o estava perseguindo, na cintura deste, a
pistola que Liath escondia sob o tampo da escrivaninha em seu apartamento.
Bloch, foi o único á ser morto em combate, pois todos os outros lutaram,
venceram e viveram até uma morte natural. Bloch morreu perseguindo um certo
nazista muito conhecido durante a segunda guerra mundial. Liath estava com as
memórias de todos eles, viu que eram todos guerreiros, viu que eram todos
bruxos. Viu que várias estátuas eram acompanhadas por lobos, mas principalmente;
viu que todos eram ele.
Depois
da última estátua, na parede havia um pequeno espelho refletindo o rosto de
Liath. A placa embaixo, tinha seu ano de nascimento mas não tinha o de morte.
De repente a superfície do espelho vibrou como a água atingida por uma pedrinha,
então do espelho, uma voz de mulher falou:
-
Filho, esta foi a marcha de todo o seu tempo, todo o seu conhecimento. Você
agora sabe e lembra tudo. Use sua experiência e sua força para a guerra que
virá. Você ainda tem muito o que sofrer, mas saiba que se vencer, terá uma vida
longa e cheia de paz. Finalmente vai conhecer o amor e quando morrer, virá para
junto de mim; descansar em paz e sabedoria, para nunca mais aos homens voltar.
Liath
caminhou e saiu da caverna, parecia caminhar no chão da Lua, olhou para cima e
então viu a Terra, grande e muito azul. Viu que do espaço profundo, uma
serpente gigante cheia de maldade vinha rastejando para destruir a o planeta
azul, e então acordou.
Saiu da
cabana e desmontou a cerca fantasma, agradecendo e dispensando seus defensores,
não precisava mais daquele tipo de coisa. Notou que seu corpo estava não só
curado, mas melhorado. Para pensar na vida resolveu ficar mais um dia na mata.
Cat
Chittor acordou com a porta do laboratório quase sendo arrombada. Desceu e deu
de cara com um jovem mestiço de índio com cara de desesperado.
- Oi,
desculpas pela hora. É...você não me conhece, mas meu nome é...
-
Sardinha – falou o gato mal humorado, nem furries gostam de ser acordados no
meio da madrugada – Tem notícias do Liath? O que aconteceu?
- Posso
subir, aqui fora a gente pode estar sendo visto, lá em cima eu conto tudo.
Subiram,
Sardinha contou o que viu e mostrou a caixa. Chittor tirou o aparelho de lá
também sem tocar. Sobre a bancada o aparelho apitava, vibrava e piscava.
- Humm,
isto é mal – falava o guepardo – Sei lá o que está acontecendo com ele, mas
seja o que for é pesado. Só podemos fazer duas coisas. A primeira é: Me dê seu
celular.
Assim
como fez com Liath, o felino substituiu o celular de sardinha. Mas tomou o
cuidado de por os dois aparelhos em rede.
- E
qual é a segunda coisa, Chittor?
-
Esperar.
Momentos
depois no apartamento do mentor, Sardinha se preparava para dormir quando ouviu
um barulho na sala. Levantou e foi checar o que acontecia. Ao acender a luz,
quase desmaiou quando viu Liath de pé, encostado na escrivaninha com os braços
cruzados. Não era ele, era seu espirito projetado, vestindo terno e gravata
pretos e uma camisa de ceda vermelho brasa. No rosto a expressão séria
terminava a pintura. Liath se transformou num bruxo noturno finalmente. Já
tinha tendência para isso, mas agora havia mudado de vez.
- Você
está morto? – perguntou o jovem assustado.
Liath
virou de lado e deixou ver o fio de prata que saia brilhante de suas costas e
desaparecia no ar. Se aquilo estava ali, o espirito ainda estava preso á um
corpo. Liath sumiu como uma lâmpada que apaga devagar. Mas quando a imagem se
foi, a sala se encheu com sua voz.
-
Descanse, mas amanhã passe óleo nas armas e afie as Lâminas. Temos muito o que
lutar.
Autor: Estevam Silva.
Ilustração: Marco Aramha.

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